Este blogue destina-se a combater todas e quaisquer pretensões de exploração da jazida de urânio de Nisa, cuja adjudicação eventual volta a estar na ordem do dia, ameaçando a saúde das populações do concelho, o posicionamento eco-turístico em curso e as actividades económicas locais.


segunda-feira, 8 de outubro de 2007

No Diário de Notícias de Hoje




Quando ainda é assim o dia-a-dia da Urgeiriça, que não nos venham tentar dizer que tudo vai ser diferente em Nisa!!!

MINEIROS DA URGEIRIÇA EXIGEM DIREITOS NA RUA
Os antigos trabalhadores das minas de urânio da Urgeiriça, no concelho de Nelas, prometem marchar a pé até Viseu e manifestar-se junto à sede do PS, se até ao fim do mês não forem atendidas as suas reivindicações para melhoria das pensões de reforma e indemnizações para familiares de mineiros vítimas de cancro.
A decisão saiu de um plenário de trabalhadores realizado ontem nas instalações da antiga mina e onde ficou decidido endurecer a luta destes mineiros que já dura há 16 anos, desde que a mina fechou.
Foi em 1991 que a antiga Empresa Nacional de Urânio (ENU) encerrou a mina da Urgeiriça, que durante anos deu emprego às gentes de Canas de Senhorim. Poucos meses depois, os antigos mineiros começavam a sentir a presença de diversas doenças profissionais, com especial incidência nas do foro oncológico.Cancro passou então a ser uma palavra infernal diariamente presente na vida de trabalhadores e familiares.
António Minhoto, porta-voz dos antigos trabalhadores da ENU, refere que "só nos últimos cinco anos morreram 80 pessoas que trabalharam nas minas".A doença tem sido o principal foco de união dos trabalhadores, que lutam para serem "equiparados a mineiros para efeitos de reforma" e exigem as indemnizações "devidas a todos os familiares dos empregados falecidos com cancro", diz o porta-voz.
Marcas duras de uma profissão que atinge antigos trabalhadores do Estado e só querem ver cumpridas as promessas que lhes foram feitas. Os antigos trabalhadores já conseguiram que o Governo aprovasse a realização de exames médicos, mas, segundo António Minhoto, "ainda ninguém foi examinado e o processo só ficará concluído no final do ano".
Exigem que os cerca de 400 antigos trabalhadores ainda vivos sejam recompensados pelo Estado, a quem "deram os melhores anos das suas vidas", refere o mesmo porta-voz.O Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge já estudou os efeitos na saúde causados pelo trabalho nas minas de urânio e demonstra a "concentração de polónio e chumbo no cabelo das pessoas", apresentando uma relação de "causa-efeito" para as mortes dos ex-trabalhadores.Em Portugal, a exploração de urânio começou em 1939, no concelho do Sabugal.
Durante as décadas de 1950 e 60, devido à guerra-fria, a exploração de urânio subiu significativamente. Foram os anos de ouro de Canas de Senhorim, que duraram até 1991, quando a exploração cessou.O minério recolhido em todo o País era essencialmente tratado na Urgeiriça. Ali encontram-se ainda guardadas 195 toneladas de urânio, que o Estado, através da Empresa de Desenvolvimento Mineiro (EDM), sucessora da ENU, pretende vender.
No plenário de ontem, os trabalhadores fizeram ouvir a sua voz e querem que o dinheiro dessa venda "seja canalizado para salvaguardar os gastos com a saúde dos antigos trabalhadores e com as reformas das viúvas".A proposta não teve seguimento, mas os ex-trabalhadores "não vão permitir a saída daqui sem essa salvaguarda". Já em 2004, antigos mineiros e moradores de Canas de Senhorim impediram a saída de 30 toneladas de urânio das minas.Muito raro é encontrar uma casa na Urgeiriça onde não tenha batido nenhuma tragédia.
Ilda Fernandes é viúva de um ex-trabalhador e hoje vive na casa que comprou à ENU. "Paguei-a em 17 prestações que me fizeram passar muita fome. Agora, apenas reclamamos justiça", desabafou ao DN.António Minhoto afirma que "os ex-mineiros e as mulheres que enviuvaram estão numa situação desgraçada. É altura dos responsáveis deste País olharem para nós".

Para ver também aqui e aqui.

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